Melodrama satírico de Caio F. deve virar musical

“A Maldição do Vale Negro”, peça escrita por Caio Fernando Abreu (1948-96) e Luiz Arthur Nunes em 1986, pode ganhar uma versão musical no ano que vem.

O projeto e a adaptação são do diretor Jamil Dias. Ele diz que sempre viu no espetáculo –que resgata, de forma crítica, o gênero do melodrama– um musical.

“Eu montei [o texto] há alguns anos com alunos de uma escola de teatro e sempre enxergava música.”

O melodrama, segundo ele, tem uma ligação direta com teatro musical. “Foi o gênero que criou a trilha sonora de espetáculos, usava temas de cada personagem.”

A história tem todos os ingredientes do gênero, como o maniqueísmo e o escapismo. Segue uma jovem órfã sofredora que é criada pelo tio rancoroso. Quando este descobre uma paixão da garota, ele a expulsa de casa e joga sobre ela uma maldição.

O elenco ainda não está definido, mas a montagem deve ter músicas de Ricardo Severo, letras de Sílvio Ferreira Leite, coreografia de Katia Barros, cenários de Marcia Pires e figurinos de Fause Haten.

Na ponta

 

Artista plástico Jair Mendes, 79, criou pintura para ilustrar o cartaz do 35º Festival de Dança de Joinville, que acontece de 18 a 29 de julho (Imagem: Reprodução)

Alma judaica Depois de “A Alma Imoral”, Clarice Niskier volta à literatura do rabino Nilton Bonder. Ela dirige com André Acioli “A Cabala do Dinheiro”, com Letícia Tomazella e Marcos Reis no elenco. Estreia em 11/7 no teatro Eva Herz.

Quadros Sete anos após sua primeira montagem, “Frames”, peça de Franz Keppler, ganhará nova encenação com Daniel Rocha e Hugo Bonemer e direção de Camila Gama e Sandro Pamponet. Estreia em 6/8 no Morumbi Shopping.

Formação A escola de artes Célia Helena está abrindo seu primeiro mestrado profissional em artes cênicas. O curso terá entre os professores Elisabete Dorgam, Samir Yazbek e Sônia Machado de Azevedo.

Pequeno ato

 

PRIMOROSA: Pai nosso que estais no céu. Muitos são aqueles que falam a oração de seu filho em vão. Repetem seu nome, mas perseguem o seu semelhante. Quando ensinaste, ó pai, que sem amor não poderíamos chegar ao seu reino, não aprenderam que matar e perseguir são práticas de ódio. Como fazem a sua vontade ao dizer que são mais retos que outros? O pão de cada dia é somente para seu próprio sustento e oferecem o pão envenenado aos que amam de maneira distinta. Pedem perdão às ofensas e seguem ofendendo aos seus semelhantes. De suas palavras sagradas, ó pai, recortam o que lhes interessam para justificar a morte. Pai, eles se sentem ofendidos por uma vida que não lhes pertencem e sempre apontam atos alheios como pecaminosos. Pai nosso que estais no céu, santificam o seu nome em favor do acossamento e justificam o ódio que alimentam em seu nome pecando pela injúria e castração do livre arbítrio de seus irmãos. Pai nosso que estais no céu, eles criam falsos testemunhos, levantando o dedo para castrar os direitos dos outros. Ó pai, eles dizem todos os meus pecados e dizem serem os filhos mais amados. Pai nosso que estais no céu, perdoe-me pelos pecados que eles dizem que cometi. Quando peco por amar, quando peco por existir. Pai nosso, esse ódio é o que promove o meu medo e, assim, ó pai, sofro pelo ódio que é praticado em seu nome. Esse mesmo ódio que decreta ser todas as horas a hora da minha morte. Amém.

Trecho de “Madame Satã” escrito por Marcos Fábio de Faria; peça dirigida por João das Neves está na Caixa Cultural SP.