Documentário sobre Club Noir registra Nathalia Timberg se ‘digladiando’ com helicópterios

Maria Luísa Barsanelli

Diretor de diversos filmes sobre teatro, com registros de coletivos como Os Satyros e Teatro da Vertigem, Evaldo Mocarzel está finalizando um documentário sobre a companhia Club Noir.

Trata-se de um retrato do “sistema artístico do diretor Roberto Alvim encarnado na atriz Juliana Galdino [cofundadores do grupo]”, explica Mocarzel. “Através da figura da Juliana, eu falo de Antunes Filho [com quem a atriz trabalhou antes de fundar o Club Noir] a Roberto Alvim. Antunes parte do corpo. Roberto, da palavra. E a Juliana transitou entre os dois sistemas.”

O documentário tem como pano de fundo os ensaios da montagem de “Tríptico Samuel Beckett” (2014), com Galdino, Nathalia Timberg e Paula Spinelli no elenco.

“Para mim o tríptico foi uma encenação histórica”, continua o cineasta, “porque ela tem ali uma presença de Nathalia, como se o TBC [Teatro Brasileiro da Comédia] fosse ao Club Noir”.

Numa das cenas do filme, gravada durante as manifestações de 2013, a atriz veterana fala sobre o dramaturgo irlandês quando os manifestantes quebram as vidraças da sede da companhia, na rua Augusta (região central de São Paulo). “É uma cena linda: a Nathalia ensaiando Beckett e se digladiando com o ruído ensurdecedor dos helicópteros.”

Primavera

 

Ilustração de Cristina Gardumi (acima) para ‘A Próxima Estação – Um Espetáculo para Ler’, do italiano Michele Santeramo, que Cacá Carvalho (abaixo, com projeção da ilustração) estreia em 10/11 no Sesc Pinheiros (Lenise Pinheiro/Divulgação)
Ilustração de Cristina Gardumi (acima) para ‘A Próxima Estação – Um Espetáculo para Ler’, do italiano Michele Santeramo, que Cacá Carvalho (abaixo, com projeção do desenho) estreia em 10/11 no Sesc Pinheiros (Lenise Pinheiro/Divulgação)

Primeira fila

 

Na sessão da última sexta de “Esperando Godot”, o ator e diretor Elias Andreato afirma ter se irritado com um garoto de 11 anos que, no meio da apresentação, se levantou da última fileira do Tucarena e se mudou para a primeira.

Ao fim, o menino, chamado Vinícius, disse ter se emocionado. Foi sua primeira vez no teatro e veio dele a escolha da peça. Quando o elenco lhe perguntou se ele entendeu o personagem-título de Beckett, respondeu: “Godot não existe”. E por que mudar de assento? “Queria ver a emoção nos olhos de vocês.” “Olha, me deu uma vergonha [de ter me irritado]”, diz Andreato.

Natalina “O Quebra-Nozes” que a Cisne Negro Companhia de Dança apresenta em dezembro terá a russa Svetlana Lunkina, primeira-bailarina do Bolshoi, o argentino Esteban Schenone e o carioca Thiago Soares, bailarino principal do Royal Ballet de Londres.

Oração “Estudo para Missa para Clarice – Um Espetáculo Sobre o Homem e Seu Deus”, de Eduardo Wotzik, estreia em 17/11 no CCBB paulistano.

Dentro de cena Em sua nona edição, o Fiac – Festival Internacional de Artes Cênicas da Bahia, que começa no próximo dia 25, buscou trabalhos mais performáticos e nos quais haja participação da plateia.

Pequeno ato

 

VELHO ATOR. (Interrompendo) Você tá de saia?

JOVEM ATOR. Estou. (ignora e continua o ensaio)…Esses mesmos sinais, mensageiros de fatos sinistros, arautos de desgraças que hão de vir, prólogos de catástrofes…

VELHO ATOR. (Interrompendo) Por quê?

JOVEM ATOR. Por que o quê?

VELHO ATOR. A saia.

JOVEM ATOR. Hum. Boa pergunta.

VELHO ATOR. (para a atriz) Você acha normal?

ATRIZ. Acho.

VELHO ATOR. Bom, mas você também acha tudo normal.

ATRIZ. (Se exalta) E se o considerado “normal” fosse andar pelada? (tira a roupa) Sentar assim ao lado de qualquer pessoa, sem roupa. (tira a roupa do jovem ator, num impulso) Você prefere ele assim? Assim é “normal”? Eu acho que a partir de agora eu vou andar assim. Nua. Vou ensaiar assim, vou à padaria assim, vou à ginástica assim. O que aconteceria se todos andassem nus? Se ninguém mais comesse carne? Se ninguém mais andasse de carro? Se ninguém mais precisasse de uma arma? Eu acho que o mundo deveria se tornar um grande puteiro. Todo mundo nu, fodendo por todos os lados, trabalhava uma hora e fazia pausa pra trepar. Depois da trepada, um cigarro pra celebrar. Na hora do almoço você poderia escolher: foder antes do almoço pra abrir o apetite ou depois, de sobremesa. Poderia foder nas baias dos escritórios, nas salas de reuniões, nos elevadores dos grandes prédios. Às seis da tarde começava o happy hour. Chegava pro barman e ele perguntaria: vai querer a promoção hoje? Até às 20h se você pegar duas trepadas com dois garçons diferentes, ganha uma caipirinha de frutas vermelhas. O mundo ia feder a sexo. Não ia mais existir traição porque o acordo sexual era todos com todos. Sem família, sem tradição, sem propriedade. Não ia mais existir motel porque todo mundo ia trepar em qualquer lugar da cidade. Só ia sobreviver a indústria do álcool, do tabaco e de camisinhas.

VELHO ATOR. Você é vulgar!

ATRIZ. E você é hipócrita! Tá tudo ruindo e você tá preocupado com uma saia!

Trecho de “Ofélia Emparedada”, de Erica Montanheiro, que terá leitura encenada em 31/10 no 8º Ciclo do Núcleo de Dramaturgia Sesi-British Council