Ney Matogrosso faz passagem provocadora na peça ‘Normalopatas’

Maria Luísa Barsanelli

GUSTAVO FIORATTI e MARIA LUÍSA BARSANELLI

O cantor Ney Matogrosso fez uma passagem provocadora na terça (20) pela Estação Satyros, na praça Roosevelt. Provocador, diga-se, tem sido título comum em processos de criação teatral: designa o papel de um interlocutor alheio à produção, convidado a opinar sobre ela.

A peça em questão era “Normalopatas – Um Manifesto Pornochanchesco e Sombrio para o Brasil de um Futuro”, da recém-criada Cia Àtropical, que estreia em 1º/10. Texto e direção são de Dan Nakagawa, compositor que já teve músicas gravadas por Ney, como o hit “Um Pouco de Calor”.

O protagonista do espetáculo, segundo a companhia, é um sujeito “que faz seu caminho guiado pela fome, pelo tesão e por um desorientado desejo homicida”. Um dos pontos da pesquisa foi o conceito de “normalopatia”, sobre pessoas excessivamente tolerantes ao sofrimento.

Ney já havia sugerido cortes e, no ensaio, levantou outras questões: considerou o trabalho positivamente esquisito, achou o final confuso e disse que o projeto de luz poderia ter mais cores. “Isso ajuda a gente a repensar o que está fora do lugar”, diz Nakagawa.

Sangue latino

 

Aílton Graça e Joana Mattei na peça 'Solidão', do Grupo Folias, inspirada na América Latina de García Márquez, Cortázar e Borges; estreia no dia 6/10 no Sesc Santana (Lenise Pinheiro/Divulgação)
Aílton Graça e Joana Mattei na peça ‘Solidão’, do Grupo Folias, inspirada na América Latina de García Márquez, Cortázar e Borges; estreia no dia 6/10 no Sesc Santana (Lenise Pinheiro/Divulgação)

Ela faz cinema “A Festa de Abigaiu”, que voltou aos palcos em agosto, nove anos após sua estreia, ganhará os cinemas. O diretor do espetáculo, Mauro Baptista Vedia, está à frente do documentário “Buscando Abigaiu”, que retratará os bastidores da peça.

O grito O diretor e dramaturgo cearense Lucas Sancho estreia “Quem Matou Edvard Munch” no dia 3 de novembro no Espaço Cia do Pássaro.

Desilusão Rodolfo Amorim (do Grupo XIX de Teatro) dirige “Naturaleza Muerta”, que estreia no dia 8/10 na Vila Maria Zélia. A peça é inspirada no livro “Gracias Por El Fuego”, de Mario Benedetti.

Gabi Costa, Juliana Sanches, Tatiana Ribeiro e Maria Carolina Dressler em 'Naturaleza Muerta' (Jonatas Marques/Divulgação)
Gabi Costa, Juliana Sanches, Tatiana Ribeiro e Maria Carolina Dressler em ‘Naturaleza Muerta’ (Jonatas Marques/Divulgação)

Pequeno ato

 

MEDEA

Eu volto.
Volto cavando um túnel até minha terra.
Fujo rastejando uma fuga deste claustro com fedor de fêmea.
Com as unhas, cavo um atalho até meu açude seco.
Volto para minha herança índia,
Para o velório infindo de meu pai que matei de desgosto.
“Morra, velho feiticeiro. Meu homem veio me libertar.”
Volto para o corpo deste pai exposto aos urubus, derramado nos braço do mandacaru.
Com os jornais do sul que escreveram o sobrenome paraibano de meu sangue nas páginas policiais. Meu pai morreu ao ler seu nome. A única palavra que sabia ler. Seu nome.
Morreu rasgando o jornal com o coração murcho. O coração dele diminuiu.
Assim minha gente geme meu erro.
Todos os dias.
Querem ser lembrados dos meus passos traiçoeiros.
Cospem na casa em que vivi, cospem nas minhas pegadas,
Cospem em quem diz meu nome.
Volto para mandinga cabocla, para umbanda escura, para a bruxa sertaneja que eu era.
Sou vergonha, sou antônimo, meu nome faz sombra.
Minha família foi escorraçada, rota, currada,
Medea é o nome das crianças mortas.
Esta cidade seca, eu afundei com meu nome.
Com meu amor.
Amor? Tua mão dilacerante não me alcança mais.

Trecho de “Um Berço de Pedra”, de Newton Moreno e direção de William Pereira, que estreia em 30/9 no Centro Cultural São Paulo