Companhia Brasileira de Teatro prepara ‘Preto’, desdobramento de ‘Projeto Brasil’

Maria Luísa Barsanelli

A pesquisa da Companhia Brasileira de Teatro para o seu último espetáculo irá render mais frutos. O grupo viajou, entre 2013 e 2014, pelas cinco regiões do país e estudou temas atuais da nossa sociedade. A investigação, que resultou no ano passado em “Projeto Brasil”, será agora desdobrada em “Preto”.

Não se trata exatamente de uma peça sobre o racismo, explica o diretor Marcio Abreu, mas se baseia nessa questão. Em especial na obra do abolicionista Joaquim Nabuco e no livro “A Crítica da Razão Negra”, ensaio do cientista político camaronês Achille Mbembe.

“Ainda não sabemos como será o trabalho”, conta Abreu, “mas ele parte de questões que ficaram pulsantes na pesquisa de ‘Projeto Brasil’ e que têm seus desdobramentos próprios”.

A companhia, que há dois meses fez residências artísticas de “Preto” em duas cidades alemãs (Dresden e Frankfurt), deve reunir atores brasileiros e estrangeiros em cena. A estreia está prevista para o segundo semestre de 2017. No ano seguinte, a peça irá à Europa –deve começar a turnê pela Alemanha e seguir por França e Portugal.

Wishful Sinful

 

Eriberto Leão como Jim Morrison em 'Jim'; com texto de Walter Daguerre e direção de Paulo de Moraes, a peça estreia no dia 28 de outubro no Teatro Vivo (Humberto Araújo/Divulgação)
Eriberto Leão como Jim Morrison em ‘Jim’; com texto de Walter Daguerre e direção de Paulo de Moraes, a peça estreia no dia 28 de outubro no Teatro Vivo (Humberto Araújo/Divulgação)

Acabou chorare A companhia franco-brasileira Dos à Deux estreia no dia 9/11, no CCBB do Rio, “Gritos”, formado por quatro poemas gestuais. A peça depois segue para os CCBBs de Brasília (8/2), SP (10/3) e Belo Horizonte (4/5).

Infinito circular Com o tema Dramaturgia e Relações de Poder, o 8º Ciclo do Núcleo de Dramaturgia Sesi-British Council celebra os 400 anos de morte de Shakespeare. Começa no dia 17/10 com o encenador britânico Tim Crouch e o brasileiro Pedro Brício.

A menina dança A partir de 3/11, Melissa Vettore reestreia duas peças no Masp: “Isadora” e “Camille & Rodin”.

Pequeno ato

Lúcio chegou de viagem e, como costuma fazer, me acordou com um beijo de língua. Foi nesse exato momento que percebi que eu havia perdido totalmente o meu paladar.

Estou em análise.

Não sei se uma coisa tem a ver com a outra.

Havia passado uma semana tranquila, sem me exceder, esperando que um dia, ao acordar, a minha audição voltasse ao seu lugar de origem. Refiz meus passos, revi a minha alimentação.

Mas continuei surda, agora com o acréscimo da falta de gosto em minha boca.

Rita Clemente na peça "Amanda", texto de Jô Bilac (Bianca Aun/Divulgação)
Rita Clemente na peça “Amanda”, texto de Jô Bilac (Bianca Aun/Divulgação)

Eu não quis alarmá-lo. Havia chegado há pouco de uma viagem muito cansativa por todo o mediterrâneo e merecia um descanso sem que o peso dos meus dias tombasse em sua cabecinha loura.

Tomamos o café da manhã juntos. Eu me saio muito bem fingindo ouvir o que ele diz. Porque talvez de fato eu o esteja ouvindo. Por outras vias. Mas estou. Ouço Lúcio sem som. Talvez seja difícil de entender o que acabei de dizer, mas é a mais pura verdade. O que tem em minha frente é um conjunto. Um conjunto de sorrisos e olhares. Lindo. Lúcio é lindo… Tem uma covinha, aqui. E a leitura que faço desse conjunto, me vem como um som. E o reconhecimento é tão imediato que sou capaz até de perceber se achou o café amargo ou fraco.

Mas não me oponho. Lúcio sugere em minha boca um mundo de sabores que fico imaginando e imaginar é tão ilimitado quanto a tudo o que eu possa supor… Por conta disso meu café da manhã foi redimensionado. Multiplicou-se como num caleidoscópio paladínico e a geleia que escorre entre meus dentes agora, ganha possibilidades

Trecho de “Amanda”, de Jô Bilac, sobre uma mulher (papel da atriz e diretora Rita Clemente) que perde os sentidos; estreia no dia 12 de setembro no Sesc Consolação.