Projeto levará óperas com drag queens ao Arouche
Um projeto chamado “Divas no Arouche” pretende levar ao largo do centro paulistano uma série de óperas com estética drag queen. “Queremos fazer uma ponte entre as divas do movimento LGBT que frequentam o largo à noite e as divas originais, as da ópera”, explica Manoel Zanini, diretor-geral do projeto
A ideia é apresentar, ao longo do primeiro semestre do próximo ano, versões reduzidas de 13 óperas clássicas –como “Carmen”, “La Bohème”, “O Barbeiro de Sevilha”, “A Flauta Mágica” e “La Traviata”–, interpretadas pela Orquestra Metropolitana.
As montagens serão encenadas no meio da praça, sem cenário, e abertas aos passantes do largo. “Queremos fazer no chão, na calçada mesmo”, afirma Zanini.
Os figurinos devem mesclar referências de época com o visual drag queen. Cada sessão terá de 20 a 30 músicos, entre coralistas e instrumentistas, em apresentações de pouco mais de uma hora.
Quatro drag queens irão recepcionar o público, e a produção negocia escalar Silvetty Montilla como a mestre de cerimônias.
O projeto está em fase de captação –acaba de ser autorizado a captar R$ 3,7 milhões via Lei Rouanet.
★
Mansão
★
Oitentista Otávio Martins dirige “La Estupidez”, comédia do argentino Rafael Spregelburd sobre um grupo de pulhas que tentam enriquecer na Las Vegas dos anos 1980. Compõem o elenco Marcello Airoldi, Lucas Salles, Juliana Araripe, Cris Wersom e Thiago Adorno. A estreia está marcada para 28 de setembro no Teatro Porto Seguro.
Quarentão O crítico Dib Carneiro Neto lança hoje o site www.pecinhaeavovozinha.com.br, dedicado ao teatro infantil. Entre os materiais de abertura está um depoimento em vídeo do compositor Chico Buarque sobre o musical “Os Saltimbancos”, que completa quatro décadas no ano que vem.
★
Pequeno ato
A minha mãe foi comprada por meu pai, numa liquidação. Ela estava pendurada, junto com outras, num grande cabide circular. Como o dinheiro de meu pai não lhe permitia adquirir lançamentos novos e nem modelos sofisticados, contentou-se com Dona Eulália mesmo, fim de estoque, mas preço de ocasião. Assim que chegou em casa, já longe da agitação da loja, onde homem escolhia mulher, homem pagava mulher, homem enfiava mulher em saco pardo, e às vezes levava duas para aproveitar o bom negócio. Já menos atordoado, ficou desconfiado se sua aquisição precipitada não deixaria a desejar… Mas não é que Dona Eulália, escolhida a dedo por Sr. Augusto, dentre as que tinham, era uma esposa doce, dedicada e que sufocava meu pai de cuidados. Para que ninguém a acusasse de ser uma esposa descuidada, jamais permitia que ele ficasse com as roupas mal passadas. Constantemente podíamos ver Dona Eulália, debruçada sobre a tábua com o olhar vigilante, caçava dobras, desfazia pregas, aplainava punhos e peitos, e afiava o vinco das calças. A poder de ferro e goma, envolta em vapores, alcançava o ponto máximo de sua arte ao extrair dos colarinhos lisos brilhos de celuloide
Trecho de “Como Todos os Atos Humanos”, texto da atriz Fani Feldman a partir das obras de Marina Colasanti, Nelson Coelho e Giorgio Manganelli; a peça da Cia do Sopro estreia em 4/8 no Núcleo Experimental